Cientistas descobrem novo alvo para o bloqueio do HIV

on terça-feira, 24 de março de 2009


Um grupo de investigadores do Instituto Nacional de Investigação em Genética Humana norte-americano (NHGRI -NIH) descobriu uma nova via de ataque ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) que pode concretizar-se numa solução para os casos de resistência aos fármacos. De acordo com o estudo publicado na edição online da revista científica "Proceedings of the National Academy of Scientes", os cientistas conseguiram bloquear a infecção por HIV em laboratório através da desactivação de uma proteína humana expressa nas células chave do sistema imunitário.

A maioria dos medicamentos utilizados no combate ao HIV, o retrovírus que provoca a Sindrome de Imunodeficiência adquirida (SIDA), dirigia-se às proteínas do vírus. No entanto, como o HIV tem um índice elevado de mutação genética, estas proteínas alvo em constante mudança levam a uma emergência sistemática de novas estirpes resistentes a fármacos.

Até aqui, os médicos tentavam contornar este índice de mutação prescrevendo "cocktails" de medicamentos ou trocando sistematicamente a medicação, ambas as estratégias com riscos elevados em termos de toxicidade e dificuldades no seguimento dos doentes.

De acordo com os investigadores, este estudo insere-se numa linha de investigação recente que passa por conceber fármacos dirigidos a proteínas das células humanas, que sofrem menos mutações do que as proteínas virais.

No trabalho agora publicado, a equipa de investigadores coordenada por Pamela Schwartzberg, do NHGRI e Andrew J. Henderson, investigador da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, descobriram que quando interferiam com a proteína humana designada por ITK (proteínas de sinalização que activam as células T que participam na resposta imunitária do organismo) impediam a infecção por HIV de células chave do sistema imunitário.

"Esta nova abordagem constitui um contributo importante para a investigação sobre o HIV", disse Eric D. Green, director científico do NHGRI. "Descobrir um alvo celular que pode ser inibido de forma a bloquear o HIV vem validar um novo conceito (no desenvolvimento de fármacos) e é um modelo motivador para potenciais terapias", sublinhou.

Quando o vírus da SIDA entra no organismo, infecta as células T, um tipo de linfócitos que tem um papel importante no sistema imune e assume o controlo da actividade destas células para que se possa replicar. Quando o vírus se espalha eficientemente pode comprometer todo o sistema e provocar a SIDA.

Segundo os investigadores, o estudo demonstrou que se a proteína ITK não estiver activa no organismo, o vírus não consegue assumir esse controlo das vias de sinalização nas células T, o que atrasa ou bloqueia a propagação do vírus.

"Ficámos muito contentes com os resultados da nossa abordagem", frisou Schwartzberg, responsável pelo grupo de trabalho. "A supressão da proteína ITK fez com que muitas das vias utilizadas pelo HIV ficassem menos activas, inibindo ou atrasando a replicação do vírus", explicou.

Em laboratório, os investigadores utilizaram um inibidor químico e um tipo de inibidor genético conhecido por RNA de interferência para desactivar a ITK de células T humanas. Depois, as células T foram expostas ao HIV e a equipa pôde estudar os efeitos da desactivação da proteína nos vários níveis de infecção por HIV e ao nível do seu ciclo de replicação.

O estudo concluiu que a supressão da proteína ITK reduz eficazmente a capacidade de infecção do HIV e a sua capacidade de replicação, ao mesmo tempo que não prejudica de forma significativa a capacidade de sobrevivência das células T. Testes em ratinhos em que a proteína foi suprimida demonstraram que estes continuavam a ser capazes de defender-se de outros tipos de infecções virais, apesar de algum atraso nas respostas imunitárias.

"Parece ser um alvo excelente a investigar", disse Schwartzberg, sublinhando que a equipa estava preocupada em perceber se bloquear proteínas humanas envolvidas na replicação do HIV podiam destabilizar o funcionamento das células.

De acordo com a responsável, esta proteína já estava a ser investigada enquanto alvo terapêutico para doenças como a asma ou outras que afectam a capacidade imunológica. "Esperamos que as nossas conclusões sejam desenvolvidas e que esta via dos inibidores de ITK possa dar origem a terapias para o vírus do HIV", concluiu a responsável.





Data: 24/03/2009

Genoma na interpretação de problemas cardíacos

Descobertas dez mutações genéticas comuns que influenciam a actividade eléctrica do músculo cardíaco

Uma equipa internacional de investigadores descobriu dez mutações genéticas comuns no genoma humano que influenciam a actividade eléctrica do músculo cardíaco e aumentam o risco de arritmias e morte por paragem cardíaca súbita. Segundo um estudo publicado na revista Nature Genetics, o factor de risco genético junta-se assim ao sedentarismo, obesidade, diabetes, excesso de colesterol e tabagismo, já conhecidos.

A partir desta descoberta, a equipa de cientistas - dirigida por Arne Pfeufer, da Universidade de Munique - quer agora esclarecer os mecanismos patogénicos da doença para melhor a diagnosticar e tratar precocemente. Não havendo sintomas, a identificação das variações genéticas que afectam as contracções do coração, nomeadamente as alterações da duração do "intervalo QT" (visível num electrocardiograma), contribuiria para detectar pacientes com risco de morte por crise cardíaca súbita.


Técnica utilizada

Para este trabalho, os investigadores analisaram o genoma de 16 mil indivíduos cujo intervalo QT foi medido em electrocardiogramas. Passaram depois a pente fino cerca de 2,5 milhões de pontos de cada genoma para tentar encontrar concordâncias entre ligeiras alterações genéticas e anomalias nas contracções do coração. Outro estudo com 13.000 pessoas, realizado por Christopher Newton-Cheh (do Massachusetts General Hospital de Boston, EUA), deu resultados semelhantes.

"Para os clínicos, um indicador importante do aumento de risco de arritmia é o intervalo QT no electrocardiograma", explica Stefan Kääb, do Hospital da Universidade de Munique. Esse intervalo descreve o lapso de tempo necessário para enviar o impulso eléctrico aos ventrículos do coração e depois recarregar, sendo que um intervalo prolongado pode aumentar até cinco vezes o risco de arritmias e morte cardíaca súbita.

Segundo os investigadores, uma única variação genética num indivíduo não significa necessariamente um risco acrescido de irregularidade do ritmo cardíaco, mas, considerados em conjunto, esses dados genéticos tornam-se estatisticamente significativos.


Este é um assunto fortemente relacionado com parte da matéria de Biologia.